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Logomarcas da UnB e do DAN Universidade de Brasília Departamento de Antropologia

Foto: Guilherme Sá

Sobre o DAN

História da antropologia na UnB

60 anos de antropologia, 50 anos de pós-graduação

O Setor de Antropologia da UnB nasceu com a própria Universidade quando, em 1962 o falecido Prof. Eduardo Galvão foi convidado por Darcy Ribeiro para cuidar desta área, estabelecendo um centro de pesquisas etnológicas e linguísticas. Desativado pela crise de 1965, o setor volta a existir em 1969. O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília – PPGAS/UnB foi criado em 1972 e se estabeleceu ao longo de quase meio século como um dos principais centros do país no que diz respeito à produção de conhecimento, à formação de profissionais para diferentes setores e à criação de intercâmbios e colaborações internacionais. Sua localização na Capital Federal o vocacionou desde o início para uma articulação cosmopolita e para a abrangência nacional, sendo um dos poucos cursos do Colégio de Humanidades da Capes avaliados com a nota máxima fora das regiões Sul e Sudeste. Desde o projeto inicial, essa formação de excelência no Centro-Oeste brasileiro se estabeleceu a partir de 5 princípios orientadores, que configuram uma marca da antropologia da UnB, mantida e renovada ao longo dos últimos 50 anos.

O primeiro se caracteriza por uma grande atenção e rigor com a formação teórica clássica de nossa área, através de sua leitura direta, visando promover perspectivas e releituras autônomas e criativas. O segundo se expressa na conexão com os principais avanços, debates e colegas no campo da antropologia em diferentes países do Norte e do Sul, com ênfase para a relação com a América Latina. Uma terceira diretriz reside na sintonia intelectual e na atuação prática relativa aos grandes problemas nacionais e internacionais atinentes à diversidade, à diferença e aos vários tipos de direitos a eles vinculados. Um quarto aspecto a ser sublinhado como princípio orientador do PPGAS/UnB é a conexão enfática da formação e da produção de conhecimento com a pesquisa etnográfica de longa duração, sempre que possível. O quinto princípio característico da antropologia feita na UnB está na configuração acadêmica que toma como um valor a convivência da variedade de perspectivas temáticas e teóricas, o que gera inclusive uma relação aberta entre o corpo discente e os orientadores, sobretudo no plano temático. Ao longo da história do Programa isto vem permitindo a sucessivas gerações de estudantes acionarem temas ou enquadramentos próprios e novos cenários etnográficos, ampliando e fazendo avançar, de forma sistemática, o escopo das pesquisas no Programa e na antropologia brasileira.

Estes 5 princípios se apresentam ao longo de toda a história do PPGAS/UnB, que pode ser organizada em 5 períodos principais. Antes disso, é preciso dizer que, em 1963, Eduardo Galvão já iniciara o ensino da Antropologia no curso de Ciências Sociais, convidado por Darcy Ribeiro, idealizador e primeiro reitor da Universidade de Brasília. Essas iniciativas pioneiras foram desmanteladas com o Golpe de 1964, seguido da saída maciça de professores, que eclipsou durante alguns anos várias áreas da UnB. Em 1968, um novo grupo restabeleceu um rumo propriamente acadêmico, tendo Roque de Barros Laraia como diretor do então Instituto de Ciências Humanas, com a inclusão de Júlio César Melatti no corpo docente. É sob este pano de fundo que se inicia o primeiro período da história do PPGAS/UnB, que se estende de 1972 a 1981, desde sua criação até o surgimento do doutorado. No primeiro semestre de 1972, chega à UnB Roberto Cardoso de Oliveira para fundar o Programa, reunindo antropólogos e antropólogas doutores e dando uma orientação de pesquisa, aproveitando-se do surgimento de um sistema nacional de pós-graduação e do apoio da Fundação Ford, que viabilizou a aquisição de uma biblioteca e a realização de pesquisas de campo. No mesmo ano, foram trazidos Alcida Rita Ramos e Kenneth I. Taylor e assim, no segundo semestre de 1972, instalou-se o Mestrado em Antropologia na Universidade de Brasília, inspirado em exemplos bem-sucedidos de formação em nossa área, com forte ênfase na formação teórica da disciplina e na pesquisa etnográfica. Nos anos seguintes, outros pesquisadores altamente qualificados, alguns com formação internacional, foram contratados como professores permanentes e visitantes (como Klaas Woortmann, Lia Zanotta Machado, Mireya Suarez e Peter Silverwood-Cope). Desde esse momento, as 3 disciplinas obrigatórias já foram estabelecidas: História da Antropologia – Autores Clássicos 1, História da Antropologia – Autores Clássicos 2, e Organização Social e Parentesco. A ideia era de que a base teórica possibilita tanto a desejada autonomia intelectual dos estudantes quanto um diálogo frutífero com seus professores. Ao longo de sua formação, o objetivo é que os estudantes passem a reconhecer as sucessivas contribuições da disciplina, debates históricos, contextos etnográficos, mudanças de rota, propostas, ideais e utopias, visando formular a sua própria visão da disciplina. Ao longo dessa década, foram produzidas, sob essa diretriz, dissertações que se tornaram referências para a consolidação da crescente Antropologia brasileira, assim como seus autores, que seguiram carreiras relevantes, contribuindo decisivamente para a estruturação do campo em nosso país, seja no meio acadêmico ou noutros setores. Para citar alguns, lembremos de Carlos Brandão, Mariza Peirano, Tullio Maranhão, Rafael Menezes Bastos, João Pacheco de Oliveira, Raymundo Maués, Maria Angélica Maués, Terri Vale de Aquino, Jane Beltrão, Ordep Serra, Leonardo Fígoli, Ana Gita de Oliveira, entre outros.

Em 1981, já sob coordenação de Lia Zanotta, o Programa instaura o doutorado, expandindo a oferta de formação neste nível para o Brasil Central, com a contratação também de Mariza Peirano. A década seguinte pode ser considerada um segundo período da história do Programa, pois marca a defesa das primeiras teses e a ampliação das temáticas abarcadas pelo PPGAS/UnB. Em 1986 é criado o Departamento de Antropologia, que se tornaria, a partir de então, a sede do Programa e um protagonista central em várias instâncias acadêmico-científicas, dentro e fora da Universidade de Brasília. No final da década de 1980, um grupo de novos professores é contratado, a maior parte com doutoramento no exterior, ampliando significativamente as áreas temáticas e os diálogos internacionais ao longo dos anos 1990. São eles: Stephen Baines, Gustavo Lins Ribeiro, Luís Roberto Cardoso de Oliveira, José Jorge de Carvalho, Rita Laura Segatto e Ellen Woortmann. Nessa década, o Anuário Antropológico, fundado por Roberto Cardoso de Oliveira em 1976, se tornaria um dos mais relevantes periódicos da área no país, com abrangência nacional em sua equipe editorial e publicando os principais debates do país, assim como textos de colegas estrangeiros.

É neste contexto que em 1991 se inicia um terceiro período da história do PPGAS/UnB, com a modernização do currículo, atendendo a preceitos correntes internacionalmente e também ao contexto de avanço da pesquisa e da pós-graduação na área e no Brasil, de modo geral, sintonizando-o ao estilo de formação contínua, que apontava mais claramente para a importância do doutoramento. Assim, o mestrado passa a ser concebido como uma etapa para o doutorado, muito embora pudesse ser cursado independentemente. Até 2004, o PPGAS/UnB vivencia então um período de dedicação muito intensa à formação, amplificando exponencialmente a quantidade de egressos doutores, com relativa estabilidade na composição do seu corpo docente. Dois dos fundadores do Programa, Roque Laraia e Júlio César Melatti, se aposentaram e se tornaram professores eméritos, ao tempo que foram absorvidos os professores Carla Costa Teixeira e Paul Elliott Little. Neste período, o horizonte de pesquisas de campo se amplia sistematicamente para a América do Sul (p. ex., Argentina, Chile, Colômbia), América do Norte (p. ex., Estados Unidos e Canadá), África (p. ex., Guiné-Bissau, África do Sul) e Sudeste Asiático (Índia, Timor-Leste). Tanto o mestrado quanto o doutorado do PPGAS/UnB recebem da CAPES sucessivamente os conceitos "A" e, a partir de 2001, o conceito 7, indicando assim a qualidade e a sustentabilidade da estrutura acadêmica e de pesquisa implementada.

No quarto período de sua história, de 2005 a 2016, uma significativa renovação transcorre no PPGAS/UnB, em função de uma transição geracional e da ampliação de seu corpo docente propiciada pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), promovido pelo MEC. Aposentam-se neste período Alcida Ramos (tornada emérita em 2009), assim como Mariza Peirano, Lia Zanotta, Ellen Woortmann e Gustavo Lins Ribeiro. A renovação fez com que, do corpo docente existente no final deste período, mais de 80% tenha sido contratado após 2005. Diante desta dinâmica, a garantia da manutenção da tradição de pesquisa e de formação do PPGAS/UnB, expressa nos 5 princípios já apresentados, se deu por meio da atualização de configurações e estratégias, notadamente com a criação sucessiva de laboratórios de pesquisa, que são 12 hoje. Esse novo modelo permitiu um maior dinamismo da pesquisa e a ampliação de instâncias de desenvolvimento de atividades, desde seminários até projetos de pesquisa, formação de redes e publicações nacionais e internacionais.

Houve também neste período grande esforço de gestão para a ampliação no corpo de servidores técnicos do Departamento, que saltou de 3 para 7 ao longo desta década, tornando possível a variação e a qualificação de atividades desempenhadas pelo Programa. Um dos exemplos disso é a criação, em 2011, do Laboratório de Imagem e Registro de Interações Sociais, o Iris, que atua no suporte audiovisual à pesquisa e ao ensino, e desde então promove, de forma sistemática, a inserção do PPGAS da UnB no campo da produção audiovisual antropológica brasileira e internacional, diversificando e impulsionando a produção científica aqui realizada. O incremento desta atividade em todas as linhas de pesquisa do Programa pode ser notado pela variedade temática da produção de filmes e ensaios fotográficos. A realização e divulgação de seminários e outras atividades e o suporte administrativo às publicações acadêmicas do PPGAS/UnB, sobretudo ao Anuário Antropológico, foram incrementadas com a criação da Secretaria de Eventos e Publicações. O Anuário vivenciou alterações significativas neste período, se adaptando ao formato editorial atual de revistas acadêmicas no Brasil e estabelecendo sua vinculação acadêmica e administrativa ao Programa. Outro avanço muito relevante para garantir a qualidade das atividades do PPGAS/UnB foi o novo espaço físico, inaugurado em 2014. O Edifício do Instituto de Ciências Sociais, situado no Campus Darcy Ribeiro, assim como a antiga sede do Departamento, dispõe de instalações mais adequadas às atividades de ensino e pesquisa e ao intercâmbio acadêmico nacional e internacional, com auditório para 100 pessoas, salas individuais para os docentes e para os laboratórios, inclusive o Iris.

Um fator muito relevante nesse período foi o pioneirismo do PPGAS/UnB na inclusão de novos atores como produtores de antropologia. Formou-se aqui, em 2011, o primeiro indígena doutor em antropologia no Brasil, Gersem Luciano, que foi professor na UFAM e em 2022 se tornou docente do Departamento de Antropologia da UnB. Ressalte-se também que, nesse mesmo ano, o Prêmio Capes de Tese foi direcionado pela primeira vez a um antropólogo negro, Carlos Alexandre Barboza Plínio dos Santos, hoje professor do PPGAS/UnB. Logo em seguida, em 2013, o PPGAS aprovou de forma inovadora a sua política de ações afirmativas, que vem resultando em processos seletivos para ingresso de estudantes negros e indígenas em nosso Programa desde 2014 (e depois quilombolas e pessoas com necessidades especiais), atuando assim para a redução das desigualdades no acesso à pós-graduação e para a ampliação da diversidade das perspectivas antropológicas. 

Em seguida à estabilização e a essas grandes transformações, o período de 2017 a 2020 marca um quinto período da história do PPGAS, sendo uma etapa de maior projeção e de consolidação do protagonismo nacional e internacional da nova geração de docentes. Nestes anos, o colegiado do Departamento de Antropologia indicou para professores eméritos Mariza Peirano, Gustavo Lins Ribeiro e Lia Zanotta Machado. Novos convênios, consolidação e ativação de redes, organização de eventos e publicações marcam este período. A manutenção do alto nível da formação neste quadriênio é atestada por diversos prêmios. A qualidade da formação e da pesquisa vem sendo mantidos com novas estratégias, diante do aprofundamento nos cortes orçamentários destinados à pós-graduação e à ciência e tecnologia. Ocorre também nessa etapa a formação dos primeiros estudantes ingressados pela política de ações afirmativas, entre eles a primeira mulher indígena a se doutorar, em 2019. O primeiro indígena formado pelo sistema de cotas do PPGAS-UnB tornou-se professor na UFBA em 2022. É importante citar a participação institucional do DAN e do PPGAS-UnB no consórcio que dá sustentação ao novo formato do Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT - www.mespt.unb.br), que é coordenado por uma egressa e conta com 5 de nossos professores em seu corpo docente. 

Este breve panorama do contexto e da história da antropologia na UnB são regularmente acessados por sua comunidade para refletir sobre as medidas a serem tomadas a fim de assegurar e atualizar os 5 princípios orientadores em sua formação e sintonizar o PPGAS com o momento atual e com as perspectivas futuras da antropologia no Brasil e no mundo. Em 2022 o PPGAS/UnB completa 50 anos, e novas modificações vem sendo implementadas, de modo a projetar a história descrita acima para o período futuro. 



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