Foto: Breno Trindade
Produção visual, sonora e audiovisual
Ciclo de ensaios fotográficos
O Ciclo é promovido pelo IRIS - Laboratório de Imagem e Registro de Interações Sociais, órgão do Departamento de Antropologia da UnB criado em 2011 para apoiar e promover o uso de recursos audiovisuais e fotográficos em atividades de pesquisa, ensino e extensão em antropologia. Compõe o o ensaios de Ciclo de Ensaios Fotográficos exposições de professores, pesquisadores e estudantes vinculados ao Departamento de Antropologia e ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, assim como estudantes do curso de graduação em Ciências Sociais da Universidade de Brasília. Abaixo estão os ensaios fotográficos que estão disponíveis online.
2020
Caranguejos, caranguejeiros e seus movimentos
por Lucas Coelho Pereira
“Tudo no mundo tem que ficar sabido, porque se não se acaba”. Foi assim que um antigo caranguejeiro no Delta do Rio Parnaíba me justificou as artimanhas dos caranguejos com o mangue e seus predadores humanos. Esses crustáceos raramente vivem em buracos retilíneos. Fazem voltas, escondem-se em cavernas de terra sob o solo – os rebancos – e até largam as patas quando se vêem terrivelmente ameaçados. Para os catadores, se isso não é prova da inteligência desses bichos, o que seria?
Veja maisA busca pelo “bom som”
por Sara Morais
Este ensaio narra a construção de uma mbila (singular de timbila) a partir da incessante busca de Domingos Mbande pelo som perfeito, o “bom som”, como a ele se referem os timbileiros do distrito de Zavala, no sul de Moçambique. Seguindo as criteriosas regras de trabalho com a madeira mwenje, que aprendeu com seu falecido pai, Domingos se engajou durante duas semanas e meia em setembro de 2018 na construção do instrumento musical. Dedicou grande parte desse tempo na etapa que exige mais concentração, ouvido apurado e boa dose de talento: a afinação.
Veja maisRetratos com peixes: captura e (des)equilíbrio
por Bernardo Leal
A pesquisa que originou este ensaio foi realizada com piscicultores nas redondezas do DF. Através dela, busquei compreender melhor os protocolos que vêm sendo desenvolvidos por estes trabalhadores na definição de pacotes tecnológicos para a domesticação de espécies nativas de peixes do Brasil. Neste contexto, em meio às atividades cotidianas, era comum que alguns piscicultores me pedissem para que eu os fotografasse enquanto seguravam em suas mãos os peixes que criam.
Estátuas de Ataúro: (re)produzindo a ancestralidade
por Ana Carolina Oliveira
Marcos Noronha Pacheco é conhecido local e internacionalmente como um dos principais produtores das chamadas estátuas de Ataúro, ilha turística de Timor-Leste. Sua habilidade com as mãos, assim como com os idiomas, o faz ser requisitado em épocas de exposição por organizações nacionais e internacionais. O manejo das ferramentas e a aplicação de técnicas ancestrais faziam parte dos principais momentos de diálogo e conexão entre nós, sempre mediados pelas estátuas e pela câmera.
As oleiras de Santiago Norte
por Vinícius Venancio
A olaria é uma atividade tradicional em Cabo Verde, especialmente nas ilhas de perfil mais agrário. Em Santiago, a mais populosa das dez ilhas que compõem o país-arquipélago e onde está localizada a capital do país, Praia, não é diferente. É no seu interior que a produção da cerâmica floresce com afinco.
Prêmios: Menção Honrosa no Prêmio Mariza Corrêa do Jornadas de Antropologia – John Monteiro
Veja maisBoi também chora, também sente dor...
por Nelma Rolande & Maysa Camelo
O Boi de Seu Teodoro é uma manifestação cultural que reúne maranhenses em Sobradinho/DF para vivenciar momentos de festividade, compartilhamento de memórias e saudades da terra natal, o Maranhão. A festa ou brincadeira do boi, como é conhecida no Maranhão, compreende um ciclo que envolve os ensaios, apresentações e, por último, a morte do boi. Além de envolver aspectos religiosos e teatrais, a morte do bumba boi é um momento de festividade e tristeza, uma vez que o boi é morto, encerrando o ciclo de apresentações.
Veja maisTem vez que o cristal anda
por Júlia Tossin & José Procópio
O garimpo de cristal de quartzo movimentou a Chapada dos Veadeiros do início à metade do século XX. Com a queda do quartzo natural, muitos deixaram os garimpos. Aqueles que ficaram se perpetuaram pelas corrutelas, vilas garimpeiras, e continuaram garimpando. Nossa pesquisa buscou conhecer mais sobre esse povo garimpeiro, através de seus saberes e técnicas. Nessa busca encontramos Seu Dedé, um antigo garimpeiro, filho de garimpeiros, raizeiro, músico, contador de histórias e, atualmente, guia turístico.
Veja maisHerança e fé no sertão mineiro
por Breno Trindade da Silva
A folia de Reis é uma prática religiosa existente por toda região do Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste brasileiros. Anualmente os grupos partem para manifestar sua fé, celebrando o nascimento de Jesus Cristo e seu encontro com os três Reis Magos. Repetindo a trajetória dos Reis do Oriente, os foliões saem entre os dias 24 de dezembro e 06 de janeiro, passando por dezenas de casas, auxiliando os fiéis no cumprimento de suas promessas e reafirmando laços com o sagrado e entre aqueles da própria comunidade.
Veja maisToque com afeto
por Amanda Antunes
Auxiliar crianças a desenvolver suas potencialidades é um trabalho que exige muita dedicação dos profissionais envolvidos. No contexto de doenças raras a exigência é grande e, em muitos casos, as crianças realizam sessões de terapia mesmo sonolentas, chorosas ou em diversas condições não ideais.
Veja maisNo meio do caminho tinha alguém: era uma pedra.
por Jose Arenas Gómez
Quando adultos, esquecemos da nossa infância e da importância de ser criança. Parece-me que, quando somos profissionais, esquecemos ainda mais daquela época de descobertas. Ora, não nos damos conta de que, justamente como antropólogas e antropólogos, voltamos a ser crianças. Sempre me sentirei uma criança: explorando, perguntando e errando muito… aprendendo. Lembro-me vivamente das minhas primeiras palavras e o riso das pessoas ao redor do fogão central da casa quando eu tentava acertar a frase “muito obrigado, está delicioso! Posso comer mais?”. Sempre me sentirei como uma criança, com desejos de voltar a ver os picos cheios de neve da montanha litoral mais alta do mundo.
Veja maisMoradas visuais
por Janaína Fernandes e Naiara Demarco
Os cercados e suas casas seguem suas rotinas em Almofala, terra do povo indígena Tremembé. A temporalidade sensivelmente marcada nas paisagens é aqui captada pelas texturas das construções, dos cajueiros e dos objetos que circulam no cotidiano; é também presente nas gerações que ali crescem e se nutrem do emaranhado de vidas e histórias que sinuosamente encaminham-se rente a cercas e estradas. As moradas, não sendo apenas produtos resultantes de uma subjetivação do espaço, são, antes, elaborações simbióticas de gente, parentesco e terra.
Veja maisOlhares Quilombolas
por Carlos Alexandre B. P. dos Santos
No período do pós-abolição (1888 a 2019), centenas de comunidades negras rurais foram expulsas de suas terras tradicionais e/ou as tiveram invadidas. No que tange às configurações de exploração e ocupação da terra, este processo está ligado a formas coloniais de dominação. Vários indivíduos e chefes de família foram ameaçados e assassinados por lutarem pela efetivação do que tenho chamado de “projeto camponês”. Em outras palavras, por buscarem acesso à terra e nela trabalhar para a reprodução física e social de suas famílias.
Veja maisImagens de uma Zululândia Pós-Moderna
por Juliana Braz Dias
Este ensaio fotográfico é produto de uma investigação sobre as chamadas indústrias criativas, capazes de articular critérios estéticos e políticos a uma lógica de mercado. As imagens aqui retratadas remetem a um empreendimento turístico localizado no coração de KwaZulu-Natal, na África do Sul. Shakaland, como é denominado, pretende ser um convite aos turistas a experienciar o que seria a vida tradicional Zulu, em um hotel construído a partir do que restou do set de filmagens da minissérie Shaka Zulu.
Veja mais2019
Cargueiras do Cerrado
por Ana Carolina Caetano Matias
As cargueiras são bicicletas já conhecidas, no Brasil, por sua eficiência no transporte de mercadorias. Essas bicicletas de carga, que burlam o trânsito nos grandes centros, são os veículos de um grupo de catadores de materiais recicláveis na Asa Norte e no Noroeste, em Brasília.
Entre 2016 e 2018, percorri diariamente a região da W3 Norte até o Campus Darcy Ribeiro boa parte das vezes de bicicleta. Na diversidade de veículos e figuras urbanas, chamou minha atenção algo como uma nuvem móvel de sacos plásticos estufados atravessando a cidade
Rústico e racional: transformações no trabalho com o gado de corte
por Graciela Froehlich
As fotografias deste ensaio foram realizadas durante minha pesquisa de doutorado em Antropologia Social (UnB/2016), quando examinei as medidas de bem-estar animal incorporadas em certificações concedidas à carne bovina e a fazendas de criação de gado de corte. Nesta seleção, reúno imagens do manejo de bovinos realizado pelos vaqueiros em uma dessas fazendas, localizada no estado do Mato Grosso e que adota o confinamento para a fase final de engorda dos animais.
Conflitos socioambientais nas veredas dos Gerais
por Breno Trinidade
O estado de Minas Gerais se apresenta a partir de dois polos formadores: as minas e os gerais. De um lado, a região mineradora, tida como um dos grandes centros econômicos no auge da exploração aurífera. De outro, a vastidão dos gerais sanfranciscanos. Todavia, desde 1960, a região Norte passou a ser alvo de ostensivas políticas de modernização via SUDENE, que cedeu 1.118.000 hectares de “terras devolutas” a empresas para o monocultivo de eucalipto. Tais atividades acabaram por promover mudanças profundas nas paisagens locais, afetando diretamente suas populações tradicionais.
Um Quilombo no Sertão
por Cláudio Vicente
Segundo a tradição oral do local, no século XVIII “seis crioulas”, como ficaram conhecidas, chegaram à região e fiaram algodão para comprar a terra. Batizaram-na de Conceição das Crioulas, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, de quem se tornaram devotas. Trata-se de uma comunidade quilombola localizada no município de Salgueiro, sertão de Pernambuco. Sua história está marcada pela resistência e pelo trabalho cotidiano para a valorização de sua cultura.
A Vida é Relevo
por Guilherme Sá
Presente em Portugal desde 2012, a ONG ambientalista Rewilding Europe atuou inicialmente na Reserva Faia Brava, situada nas adjacências de Figueira de Castelo Rodrigo, região da Beira Alta Interior. A partir de uma área modesta - cerca de 800 ha - foram realizadas diversas ações vinculadas ao empreendimento de renaturalização (rewilding), como a gestão e o manejo ambiental visando reintroduzir grandes herbívoros e subsidiando serviços como operadores de turismo, hotelaria e venda de produtos ecológicos.
O café dos nasa
por Janeth A. Cabrera
Esta pesquisa etnográfica, desenvolvida durante o período de doutorado, tomou o café como fio condutor de observação entre os produtores e comerciantes da região de Tierradentro, no sudoeste da Colômbia. É uma abordagem do café em sua transformação de planta a produto acabado. Tudo como parte de um processo no qual os indivíduos e suas formas de organização intervêm de maneira relacional com o ambiente e, assim, constroem continuamente formas de existência, comunicação e troca
É tempo de caju!
por Naiara Demarco e Janaína Fernandes
A partir de setembro, é tempo de caju! Os cajueirais da Almofala do povo Tremembé (Itarema, Ceará) enchem-se de frutas que, de tanta fartura, esparramam-se pelo chão de areia branca. Mãos os recolhem com facilidade, separando a maciez da carne da dureza da castanha, enquanto bocas mastigam e sugam o suco doce e remoso. Mãos os espremem para fazer o mocororó, caju azedo fermentado, e levam às bocas sedentas de café e prosa as castanhas torradas em fundos de quintais.
Kitharentsi: tecendo saberes e tradições
por José Pimenta, Alexandrina Pinhanta e Juliana Amorim
Este ensaio apresenta um olhar sobre a arte da tecelagem das mulheres ashaninka da aldeia Apiwtxa, Terra Indígena Kampa do rio Amônia (Acre). Os Ashaninka possuem uma cultura material milenar, rica e diversificada. Entre as peças produzidas pela comunidade, destacam-se objetos tecidos à mão de modo tradicional tais como: tipoias, bolsas e, sobretudo, a vestimenta masculina chamada kitharentsi, um poderoso símbolo da identidade desse povo. A palavra kitharensti designa tanto a vestimenta tradicional como o próprio tecido.
"Do Trabalho para o Samba": cidade, ocupação e cultura
por Luana Barcellos
Brasília é caracterizada por uma dinâmica e personalidade peculiar. Seus poucos anos e o projeto ideal com que foi imaginada explicam e carregam a história de sua configuração atual em diversos aspectos: estrutura, organização, relação com o espaço. A cidade passa, no entanto, por um momento de metamorfose, principalmente no que diz respeito à movimentação cultural. O projeto apresentado neste ensaio é um dos que contribui para essa renovação: o espaço, os objetivos da proposta e a dinâmica própria da roda de samba trazem algo de novo e de transformador para a cidade.
Sobre costas, sobre corpos...
por Nelma Rolande
Estas costas narram a prática de ornamentar corpos em diferentes contextos do povo Canela. A ornamentação é parte do processo de fabricação do corpo, sendo uma das estratégias de diferenciação que atua como elemento de legitimação do status de hamrén (posição social de prestígio), outorgado a alguns membros desse povo.
Feto Ataúro te’in: o cozinhar das mulheres
por Maria Luiza Vietes Pedrosa
Feto Ataúro te’in, em tétum, quer dizer “as mulheres de Ataúro cozinham”. Durante os meses em que realizei pesquisa na Ilha de Ataúro, em Timor-Leste, observei e participei diversas vezes de uma atividade importante para a socialização das mulheres e para a economia da comunidade: o cozinhar, te'in.
Nós, primatas
por Mariana Machado
O que separa os humanos dos animais? Esta questão clássica que paira sobre a cabeça dos homens até hoje reflete como sempre estamos procurando o que teríamos de especial em relação aos outros animais. Por não sabermos ao certo o que é, a fronteira que separa a humanidade da animalidade é nebulosa, ainda mais quando observamos nossos parentes mais próximos: os macacos. Posta esta questão, o presente ensaio fotográfico se coloca como uma tentativa de trazer uma reflexão sobre como as interações multiespecíficas em ambientes “urbanos” nos ajudam a pensar o mundo interpelando mais uma vez, a dicotomia “natureza” e “cultura”.
Crônica dos Caminhos Awá: o que sabem os Guajá da Amazônia Oriental
por Renata Otto
Os Awá-Guajá – tupi-guarani no Maranhão – formam um pequeno grupo de variantes de uma opção por uma forma mais atomizada e móvel de ordenamento material e sociopolítico, com os Xetá, os Avá Canoeiro, os Siriono e os Guayaki. Os conheci trabalhando no departamento da Funai encarregado por ações junto a índios isolados e recém contatados. Soube que, há cerca de 3 séculos, teriam chegado ao leste do Maranhão, provenientes do interflúvio Xingu-Tocantins, quando passaram a recusar relações amistosas com estrangeiros e a abandonar o cultivo de roças.
2018
Futuros Possíveis: Um estudo antropológico do Museu do Amanhã
por Amanda Sucupira Pedroza
Nos seus próprios termos, o Museu do Amanhã é um museu de ciências “diferente”, que explora perguntas e ideias sobre como podemos construir e viver os futuros possíveis dos próximos 50 anos. A partir de diversos recursos tecnológicos, cenográficos e interativos de seu acervo virtual, o museu estabelece conexões entre arte, ciência e tecnologia para compor suas exposições. Os caminhos da exposição principal levam o público por cinco grandes áreas: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós. Uma narrativa conduzida pelas perguntas: De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir?
Sanan rai: a reinvenção da tradição
por Ana Carolina Ramos de Oliveira
Políticas em torno da construção e diversificação do mercado nacional têm sido impulsionadas por diferentes atores em Timor-Leste. Organizações não governamentais (ONG) nacionais e internacionais se tornaram agentes importantes, incentivando mudanças nas dinâmicas reprodutivas das comunidades a partir de pedagogias econômicas fundamentadas na ideologia da modernidade. Promove-se a transformação das coisas da kultura, utilizadas já em rituais e/ou trocas cerimoniais e cotidianas, em mercadorias.
Fé e devoção no Recôncavo Baiano
por Breno Trinidade
Em Novembro de 2004, o samba de roda do Recôncavo Baiano foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN – como patrimônio cultural nacional e, no ano seguinte, 2005, eleito Obra Prima da Humanidade pela UNESCO. Tendo como principal objetivo assegurar a continuidade da prática a partir de sua divulgação e promoção, as ações de salvaguarda implementadas pelo IPHAN se centraram, principalmente, no samba enquanto performance. Nesse ensaio fotográfico, busco refletir sobre a complexidade de um universo cujo samba é apenas um dos vários elementos que compõem uma rede de sociabilidade mais ampla em que a religiosidade, o trabalho, o parentesco e o território permeiam o cotidiano de inúmeras famílias.
De quem é a terra? Práticas de governo na regularização da propriedade em Timor-Leste.
por Carlos Andrés Oviedo
A regularização da propriedade da terra tem sido um dos grandes desafios administrativos para o Estado leste-timorense. Para o caso desta jovem nação do sudeste asiático tal fato apresenta alta complexidade em função de seu passado como colônia portuguesa e posteriormente como território ocupado pela Indonésia durante 24 anos. O deslocamento forçado de populações e a existência de mais de um regime de legitimação da propriedade têm dificultado o estabelecimento dos parâmetros legais que definam quem tem o direito a ser o dono da terra.
Objetos relativos
por Carlos Andrés Oviedo
A regularização da propriedade da terra tem sido um dos grandes desafios administrativos para o Estado leste-timorense. Para o caso desta jovem nação do sudeste asiático tal fato apresenta alta complexidade em função de seu passado como colônia portuguesa e posteriormente como território ocupado pela Indonésia durante 24 anos. O deslocamento forçado de populações e a existência de mais de um regime de legitimação da propriedade têm dificultado o estabelecimento dos parâmetros legais que definam quem tem o direito a ser o dono da terra.
Catar a borracha: a criatividade do trabalhador na prática
por Eduardo Di Deus
Nos seringais do interior de São Paulo o momento de catar (ou recolher) a borracha é um dos mais reveladores da criatividade e autonomia técnica dos seringueiros em seus ofícios. Estes trabalhadores são chamados também de sangradores(as) de seringueira, em referência direta à atividade essencial que desempenham, a sangria, que consiste em realizar, com facas apropriadas, cortes de finas porções de casca em profundidades precisas, para gerar o fluxo do látex.
Técnicas de Pescar, Técnicas de Registrar
por Gabriel Calil Maia Tardelli
Olhar, ouvir e escrever enquanto se aprende a remar em uma tradicional canoa de “um tronco só”: múltiplos atos cognitivos, múltiplas técnicas. Mas as técnicas de registro da dimensão empírica nem sempre dão conta das técnicas empregadas pelos grupos pesquisados. No meu caso, eis o dilema: como registrar a pescaria enquanto aprendo a pescar? Na “era do smartphone”, este aparelho se mostrou de grande valia no decorrer do meu trabalho de campo junto aos pescadores artesanais da Praia de Piratininga, em Niterói (RJ). O uso do “clássico” caderno de campo era inviável, quando não inoportuno.
Isso NÃO é um convite
por Gabriel Calil Maia Tardelli
Olhar, ouvir e escrever enquanto se aprende a remar em uma tradicional canoa de “um tronco só”: múltiplos atos cognitivos, múltiplas técnicas. Mas as técnicas de registro da dimensão empírica nem sempre dão conta das técnicas empregadas pelos grupos pesquisados. No meu caso, eis o dilema: como registrar a pescaria enquanto aprendo a pescar? Na “era do smartphone”, este aparelho se mostrou de grande valia no decorrer do meu trabalho de campo junto aos pescadores artesanais da Praia de Piratininga, em Niterói (RJ). O uso do “clássico” caderno de campo era inviável, quando não inoportuno.
Colheita dourada A arranca do capim no Gerais do Jalapão (TO)
por Guilherme Moura Fagundes
O Jalapão (TO) possui uma terra em que se queimando tudo dá. Esse é o caso do “capim-dourado”, uma planta que, como dizem, só existe mó do fogo. Tomado pela taxonomia vegetal como uma das populares “sempre-vivas” pertencentes à família Eriocaulaceae, pelos jalapoeiros, entretanto, esta cobiçada planta é tida como um capim. Tal acepção diz muito sobre sua estreita relação com as práticas do manejo bovino, pois a queima das veredas possibilita tanto a promoção do capim-dourado quanto a rebrota do capim agreste que alimenta o gado.
M’saho: o festival das timbilas
por Sara Morais
Timbilas são descritas pela bibliografia antropológica e musicológica como instrumentos musicais tocados pelos chopes de Moçambique. Mais amplamente, o termo designa a dança e a música; ao instrumento dá-se o nome de mbila (que possui diferentes tamanhos e sonoridades). Anualmente, desde 1995, realiza-se no Miradouro da vila de Quissico, Distrito de Zavala, Província de Inhambane, um festival denominado M’saho, que reúne pelo menos uma dezena de grupos de timbilas para sua apresentação pública.
2017
Quintal das Artes: uma ocupação artística em Mindelo
por Arthur Menezes de Almeida
Mindelo, localizada na Ilha de São Vicente, é uma cidade que respira arte. Entretanto, nem todos possuem espaço e verba “ideais” para sua produção artística. Daí surge o Quintal das Artes, um espaço que antes era uma esquadra de polícia abandonada e cheia de entulhos e hoje é ocupado (de maneira não regularizada pelo Estado) por artesãos, atores, percussionistas e diversos outros artistas, que usam do espaço para expressar suas produções de cultura popular na capital cultural de Cabo Verde.
A eficácia das máquinas: Seu Léo, Rafael e a Linotipo.
por Bernardo Peixoto Leal
Este ensaio gira em torno do ofício que Seu Léo e seu filho Rafael realizam na Cidade Ocidental - GO. Seu Léo trabalha desde os 14 anos como mecânico de uma máquina gráfica chamada linotipo. Há 63 anos nutre seu carinho por essa máquina que lhe possibilitou criar 11 filhos, dos quais 5 já trabalharam e alguns ainda trabalham em gráficas. A Linotipo surgiu em 1886, no seio da sociedade industrial, com o fim de acelerar a lenta tarefa de composição envolvida na produção de jornais.
Um Brasil para todos os brasileiros: Vinte anos da Marcha Nacional dos Sem-Terra
por Christine de Alencar Chaves
Foram dois meses de caminhada, mais de mil quilômetros percorridos por cada uma das três Colunas da Marcha Nacional por Reforma Agrária, Emprego e Justiça, organizada pelo MST em 1997. Dos 1.300 sem-terra que fizeram o percurso, 600 partiram de São Paulo. As três Colunas reuniram-se em Brasília, em 17 de abril, data do massacre de Eldorado dos Carajás, em que 19 sem-terra foram mortos pela PM do Pará. Além do percurso diário nas estradas, os sem-terra realizavam ato público nas cidades, com discursos, palavras de ordem, performances e canções.
Cantoria de Pé de Parede
por João Miguel Sautchuk
A cantoria, ou repente, é um tipo de poesia cantada e improvisada bastante difundida em todo o nordeste do Brasil. Os poetas (chamados de cantadores, repentistas ou violeiros) apresentam-se em duplas, alternando-se na criação e canto de estrofes de acordo com rígidas normas de métrica, rima e oração (ou coerência). Nesse diálogo, respondem a sugestões e desafios do parceiro, bem como aos pedidos da audiência. Um cantador procura sempre mostrar-se poeta melhor e mais inspirado, diante do que a parceria necessária entre dois cantadores é sempre temperada pela disputa.
Retratos ashaninka
por José Pimenta
O ensaio fotográfico resulta de uma pesquisa etnográfica realizada em junho de 2016 na aldeia ashaninka Apiwtxa durante a festa de comemoração do 24º aniversário da demarcação da Terra Indígena Kampa do rio Amônia, situada na região do Alto Juruá (Acre – Fronteira Brasil-Peru). Durante o evento, os Ashaninka receberam convidados e realizaram diversas atividades festivas, entre elas vários piyarentsi, ritual onde consomem a bebida fermentada de mandioca, dançando, cantando e tocando suas músicas tradicionais.
As mulheres na festa do Divino
por José Maria da Silva
Este ensaio aborda o papel das mulheres na festa do Divino Espírito Santo, na cidade de Mazagão Velho, distrito do município de Mazagão, a cerca de 63km de Macapá, no estado do Amapá. A população desta cidade é predominantemente negra, de aproximadamente 5 mil pessoas, e vive basicamente da agricultura, pesca, coleta de açaí e de empregos públicos. A cidade foi fundada em 1770, a partir do deslocamento de 340 famílias da cidade fortificada de Mazagan, no Marrocos (costa da África), em razão da guerra entre cristãos e muçulmanos.
“Amanhã vamos bater timbó”: um dia entre os Ikólóéhj Gavião de Rondônia.
por Lediane Fani Felzke
Os Ikólóéhj Gavião de Rondônia, como grande parte dos povos amazônicos, dividem o ano em dois momentos: o tempo chuvoso e o tempo seco. O tempo chuvoso é considerado o ano dos Gojánéhj – gentes que habitam o plano subaquático e que são os donos das águas. Durante este período é preciso ter respeito pelos rios e pela floresta porque os Gojánéhj podem ser perigosos e estão por toda parte. Este é, portanto, um tempo de reclusão e cuidado.
No mar, longe de casa
por Marco Julián Martínez-Moreno
Era um dia de outubro. Herbert devia levar uma peça de motor para um barco no meio da Baia de Guanabara. Isso exigia a coordenação do pessoal das duas embarcações, entre gritos e palavrões. “Ué, eu sou marítimo, cara! O que você esperava?”. A jornada começou cedo e acabou pouco antes do pôr do sol. À noite, seus colegas voltariam para casa, mas não Herbert... Ele jantou na casa da irmã, vizinha da sua ex-mulher, que o processou, segundo ele, após uma “briga por ciúmes”. Para não correr o risco de descumprir uma medida protetiva, ele voltou à embarcação para dormir.
“Mandinga é bonito!”: estética da construção de uma tradição
por Juliana Braz Dias
Os “mandingas” configuram um dos mais destacados fenômenos da cultura popular de São Vicente, em Cabo Verde. Personagem antigo do carnaval local, o mandinga saía às ruas assustando a população com vestuário e performances que faziam referência a uma África imaginada, de gente guerreira e temida. Na última década, tem sido possível observar a retomada, a ampliação e a reconstrução dessa “tradição”
Pedagogias para a igualdade de gênero em Timor-Leste
por Miguel Antonio dos Santos Filho
A Assosiasaun Mane Kontra Violensia – AMKV é uma ONG composta por homens que tem como objetivo garantir que as comunidades em Timor-Leste sejam permeadas pela igualdade de gênero e livres da violensia domestika. A ONG realiza atividades de conscientização que condenam a prática de agressões físicas nas relações conjugais, mediando para as comunidades valores igualitários de gênero. Tais atividades são voltadas aos homens, para fazê-los parceiros na luta pela garantia dos direitos das mulheres.
Fármacos, sangue e ciência: Fluxos e poder na experimentação farmacêutica
por Rosana Castro
Este ensaio foi originado em pesquisa etnográfica realizada em um centro de pesquisa clínica da região centro-sul do Brasil em 2016. Especializado na execução de experimentos de medicações produzidas por empresas farmacêuticas estadunidenses e europeias, o centro participa de atividades que compõem dois fluxos constituintes desse tipo de empreendimento.
As nuances do comércio (in)formal de Mindelo
por Vinícius Venancio de Sousa
A arte de comerciar está intrínseca na vida dos mindelenses, capital política da ilha de São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde. Em todos os lugares, em especial na Morada, bairro central de Mindelo, é possível encontrar pessoas vendendo algo. De macarrão instantâneo, peças de carro usadas a bugigangas trazidas da costa do continente africano, tudo é comerciável. Aqui, o comércio é uma das escapatórias para reduzir as altas taxas de desemprego e pobreza do país.
2016
Som das minas: um estudo sobre performances femininas na cena Hip Hop do entorno de Brasília
por Amanda Antunes
Esse ensaio faz parte da documentação da pesquisa PIBIC que visa investigar o protagonismo e a relação das mulheres no movimento Hip Hop do DF. Tal movimento é visto como uma arte de cunho social e político que se volta para grupos da periferia. Até recentemente, a participação das mulheres no palco se dava, na maioria das vezes, como backing vocals dos Mestres de Cerimônia (MC’s). Com o passar do tempo, contudo, elas foram conquistando seu próprio espaço em cena e hoje escrevem letras de música e lideram grupos de rap.
Terra de Baú
por Ana Carolina Araújo Fernandes
O ensaio fotográfico “Terra de Baú” apresenta ao público uma narrativa sobre a relação do povo quilombola da comunidade Baú - da cidade de Araçuaí, região do Vale do Jequitinhonha, Estado de Minas Gerais - com o seu território e com a casa. A partir do trabalho de campo que venho desenvolvendo desde 2013 na região, tenho percebido que para se pensar sobre a casa de pau-a-pique Baú é necessário considera-la como um elemento basilar deste território/lugar, que é construído e significado pela comunidade.
Olhos de água
por Carlos Emanuel Sautchuk
Revisito aqui as fotografias que marcam minha relação de pesquisa, amizade e desafios políticos de mais de uma década com os pescadores e moradores da Vila Sucuriju (AP), no estuário do Amazonas. Ao retomar contato com este material fotográfico, pareceu-me imperativo ressaltar os olhares - seja nos movimentos ou em compasso de espera, esta variante imóvel da ação. Os retratos aqui expostos tematizam a relação entre o mostrar e o fazer para estes especialistas amazônicos do engajamento visual.
Kalunga, História Viva
por Georgia da Cunha Marques
O Sítio Histórico do Patrimônio Cultural Kalunga é considerado o maior território brasileiro quilombola em extensão, abrangendo três cidades do extremo norte do Estado de Goiás - Cavalcante, Teresina e Monte Alegre de Goiás - e duas ao sul do Tocantins - Arraias e Paranã. As fotos selecionadas para este ensaio mostram momentos anteriores e do decorrer do festejo feito anualmente no mês de junho para São João na fazenda Sucuri, localizada no Município de Monte Alegre de Goiás-GO.
A força do pinga-fogo: Pirotécnicas da conservação no Cerrado-Jalapão (TO)
por Guilherme Moura Fagundes
Um objeto técnico tem ocupado lugar de grande relevância em experimentos de conservação da biodiversidade no Cerrado brasileiro. Trata-se do pinga-fogo, utensílio historicamente partícipe dos combates a incêndios florestais e que agora passa a ser agenciado no movimento recente de reabilitação do uso do fogo como ferramenta de gestão de unidades de conservação.
Do que a natureza dá e o Estado quer: sobre o trabalho em Nova Sociedade
por Isabele Villwock Bachtold
Este ensaio é parte de uma pesquisa etnográfica sobre o Programa Bolsa Verde, realizada em 2015, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A pesquisa visava identificar as percepções dos beneficiários sobre as regras do programa e seus efeitos na preservação do meio ambiente. A única condição para receber o benefício era a manutenção da cobertura vegetal; no entanto, esta não era assim percebida pelos moradores de Nova Sociedade, comunidade localizada na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Santarém – PA).
Construindo casas para receber os “parentes”: os Gavião Ikólóéhj de Rondônia e os preparativos de uma festa
por Lediane Fani Felzke
Os Gavião Ikólóéhj consideram a si mesmos um povo “festeiro”. Adeptos do cristianismo protestante desde meados dos anos 1960, a partir de 2006 inovaram na forma de homenagear o Deus cristão, realizando festas de Natal com músicas e danças na igreja. Tais eventos atraem não apenas os moradores das suas aldeias, mas também “parentes” de outras etnias e requerem uma grande mobilização para seu preparo. Nas festas de antes da adesão ao evangelho, construíam uma maloca para abrigar os visitantes e armazenar a bebida fermentada a ser consumida (ì sóhn).
ILÉ ÌDÁNÁ: Aprendizado, Alimentação e a Cozinha de Santo do Ilé Asé Tumby Layó
por Marcos Júnior Santos de Alvarenga e Sara Godoy Brito
Produzido por dois pesquisadores, o presente ensaio fotográfico é resultado de um esforço conjunto de combinar dois olhares distintos: um de quem está fora das práticas rotineiras do Candomblé e outro de quem está bem perto dessa realidade, por ser iniciado. Buscamos produzir imagens que expressassem o cotidiano e as dinâmicas da cozinha de uma Casa de Santo (ILÉ ÌDÁNÁ), evidenciando o cuidado, a dedicação, as regras e as hierarquias, bem como a beleza que compõem os rituais e a movimentação dos filhos de santo e das divindades dentro do terreiro.
QUANDO A VACINA ENTRA NA ESCOLA
por Natália Almeida Bezerra
Olhe, toque seu braço. Ache aquela marca que parece uma cicatriz, a que temos desde bebê. Essa é sua marca de vacina. Só sua. Essa marca é um sinal que o indivíduo carrega no seu próprio corpo e que garante submissões, à norma jurídica e à autoridade sanitária. O fenômeno vacinal é complexo, em especial para a Antropologia, que pensa as diferentes interações entre saúde, sistema biomédico, Estado e indivíduo. Hoje, se privilegia um novo corpo. Há uma nova vacina, realizada apenas em meninas de 09 a 13 anos, contra o Papiloma Vírus Humano (HPV), ministrada para prevenção do câncer de colo de útero.
Povos Indígenas na fronteira Canadá - Estados Unidos: o Encontro em Hozomeen
por Stephen Grant Baines
O ensaio focaliza povos indígenas na fronteira internacional entre a província de Colúmbia Britânica, Canadá, e o estado de Washington, Estados Unidos. A pesquisa foi realizada dentro do projeto de pesquisa Estilos de Etnologia Indígena em Contextos Nacionais. No Canadá, a pesquisa teve inicio em 1995, com várias visitas ao país, incluindo um pós-doutorado na Universidade de Colúmbia Britânica (2009-2010). Nesta região, a fronteira foi estabelecida pelo Tratado de 1846 e demarcada entre 1902 e 1907, dividindo os territórios tradicionais de vários povos indígenas.
Os encontros e os ritmos de um bairro em construção no DF
por Vinicius Prado Januzzi e Lucas Ferreira Gesser
Fruto de pesquisa de campo com moradores e moradoras que se mudaram recentemente para o Setor Noroeste, esse é um ensaio fotográfico sobre os ritmos do bairro em construção. As fotos, feitas em uma segunda-feira de julho de 2015, focalizam o cotidiano a partir do que se desenrola nas ruas e nos encontros entre pessoas com trabalhos, trajetórias e sonhos diferentes. Nas ruas, de manhã até o fim do dia, as diaristas, as babás, as empregadas, os operários, os trabalhadores informais, os comerciantes e os funcionários integram a paisagem urbana do Noroeste.
2015
Entre Tramas da Salenda: Alguns formatos do Tais em Díli Timor-Leste
por Andreza Ferreira Graduanda
A confecção da salenda inclui várias atividades como: enrolar linha, fazer o duir (trama), passar a ordem (encomenda) para o papel, adequar o que foi feito em papel para o tais, tecer, revisar, cortar a franja, entre outras. Contudo, é necessária uma ordem para desencadear a produção. As ordens abrangem escolha de cores, negociação de palavras ou desenhos que vão estar no produto final, assim como a quantidade de salendas e o tamanho delas.
Mulheres na Labuta: Quando Participar dos Festejos é Cuidar das Pessoas
por Chirley Mendes
Este ensaio apresenta uma das dimensões que compõem a festa de Jesus Bom Pastor, santo padroeiro da comunidade de Ribeirão Chiqueiro, localizada no conselho de São Domingos, na Ilha de Santiago (Cabo Verde), que ocorre anualmente no mês de maio. Os festejos são organizados pela comunidade e reúnem não só moradores locais e pessoas das redondezas, como também cabo-verdianos emigrados.
Sangradores e Seringueiras no Noroeste Paulista
por Eduardo Di Deus
Quando se fala em seringais, o mais comum é que se pense na Amazônia. No entanto, desde os anos 1990, o Brasil produz mais borracha natural em plantações de seringueira do que nos seringais nativos amazônicos. Mais da metade da borracha natural produzida no Brasil vem do interior paulista. Lá, o seringueiro é também conhecido como sangrador, por realizar a sangria, principal atividade no processo de extração.
Libertando Raxayõma: o Ritual da Fartura entre os Yanomami de Ariabú, Região de Maturacá/AM
por Gustavo Menezes
A pesquisa na qual este ensaio fotográfico está inserido buscou analisar a trajetória de um subgrupo Yanomami do noroeste da Amazônia. Nesta localidade, a presença por cinco décadas de uma missão salesiana desencadeou uma série de transformações na comunidade. Apesar da espiritualidade tradicional ter sido combatida pelos missionários, a realização do ritual da fartura persistiu e constitui um exemplo da resistência dos pajés.
“Agora fazemos assim”: um Ensaio sobre Consolidação do “Moderno” no Timor-Leste Contemporâneo
por Henrique Romanó
Ter um sistema de justiça nos moldes ocidentais é parte do processo de construção do Estado em Timor-Leste. Neste sentido, vários foram os esforços advindos de organizações não governamentais parceiras do governo para consolidação da Justiça estatal no país no ano de 2014. Um dos projetos que visa este objetivo é o “Mobile Courts” [tradução: Cortes Móveis], que recebe ajuda financeira da ONU para realizar julgamentos nos mais diversos locais do país que, apesar de pequeno, possui várias formas de justiça.
O Carnaval de Mindelo: Expressão da Encruzilhada entre África e América Latina
por Jamila Odeh-Moreira
Ao pensar em Carnaval, quase toda e qualquer pessoa imediatamente pensa no carnaval do Brasil: aquele dos enredos de samba e desfiles de escolas. Poucos sabem, no entanto, que o Carnaval não é um evento exclusivamente brasileiro. Ele também existe, e com peso, em Cabo Verde, mais especificamente na ilha de São Vicente. Considerada a festa cultural e política de maior destaque dentre todas as do arquipélago, o Carnaval é uma das grandes contribuições culturais da ilha.
Brincadeira na Quaresma: Tambor de Crioula nos Cocais do Piauí
por João Miguel Sautchuk
O tambor de crioula na microrregião do Baixo Parnaíba, Piauí, é uma brincadeira praticada predominantemente nas localidades rurais por lavradores (em geral, pequenos proprietários ou agregados de fazendas). Uma banda, ou ocresta, de tambor de crioula é liderada por um dono que domina as habilidades dos toques dos tambores, do canto e da construção dos instrumentos. Além dele, fazem parte das ocrestas dois ou mais homens, em geral parentes e vizinhos dele, que batem tambores e cantam.
Casar como Branco: uma “Festa Bonita” entre os Krikati
por Júlia Trujillo Miras
Ao chegar na Aldeia São José e me instalar na casa dos Bandeira, percebi uma grande movimentação em torno da produção de uma festa de casamento. A festa, diferente de minhas expectativas, seria como as do kupen (branco). Todos os dias via mulheres saindo para comprar vestidos e sapatos, e contratar serviços de decoração, o padre e o bolo. Eram muitas as tarefas e cada detalhe deveria ser preparado com cuidado para produzir uma “festa bonita, como a dos brancos”.
Um Carnaval no Diminutivo?
por Juliana Braz Dias
A ilha de São Vicente, em Cabo Verde, tem no carnaval uma de suas principais festas populares. O Brasil é importante fonte de inspiração para o entrudo cabo-verdiano, o que ficou eternizado no verso cantado por Cesária Évora: “São Vicente é um brasilinho”. A canção revela não só a proximidade entre os dois países, mas também o contraste entre suas dimensões. São Vicente é “um grãozinho de terra”, com menos de 80.000 habitantes.
Retratos das Infâncias em Acupe/BA
por Maria José Barral
Este ensaio fotográfico sobre as crianças de Acupe é um desdobramento da investigação sobre a festa “Nêgo Fugido”, que acontece anualmente nessa comunidade do Recôncavo Baiano. Durante o trabalho de campo realizado em Janeiro de 2015, observei o protagonismo das crianças nos mais variados espaços, além da festa. Os retratos das crianças de Acupe são os primeiros passos em busca de uma reflexão sobre como são as infâncias nessa comunidade, onde o “Nêgo Fugido” toma forma como manifestação da cultura popular e conta, em grande número, com a participação de meninas e meninos.
Brincando com Fogo: Ensaio Fotográfico da Guerra de Espadas de Senhor do Bonfim
por Rodrigo Gomes Wanderley
Todo ano, no dia 23 de junho, véspera da noite de São João, a uma ruptura com a realidade cotidiana, quando fogueiras são montadas nas portas das casas se transformam em fogueiras de Ramo. Elas são montadas para desafiar homens corajosos, que não têm medo do fogo e sobem em suas copas, lutando uns com os outros para pegar prêmios como pedaços de cana-de-açúcar ou litros de cachaça. Os homens representam alguém chamado Antônio que, nascido de uma gestação difícil, paga a promessa que sua mãe fez para que ele nascesse com saúde.