Trajetória
Graduei-me em Ciências Sociais na Unicamp em 1996. Meus títulos de mestre e doutora em antropologia social foram atribuídos pelo PPGAS/UnB em 2000 e 2004, respectivamente.
Em 2001 iniciei minha jornada – que segue até o presente momento – de compreensão dos processos pelos quais projetos de modernização têm sido negociados, transpostos, realizados e subvertidos na e pela coprodução de Timor-Leste como uma fronteira nacional particular. Não por acaso, minhas experiências etnográficas impuseram a análise das dinâmicas de transformações econômicas como janela epistemológica privilegiada.
Meus esforços de pesquisa têm focado as práticas de governança pelas quais o capitalismo e a sociedade de mercado estão a ser coproduzidos e transformados e os modos como coexistem com regimes econômicos distintos em Timor-Leste e alhures.
Interessa-me ainda etnografar práticas econômicas pós-capitalistas emergentes e as subjetividades que as sustém.
Pude aprimorar minhas habilidades acadêmicas como estudante visitante no ISCTE/Portugal, em 2002; como visting fellow na The Australian National University, entre 2011 e 2013; como pesquisadora visitante na Universidade de Lisboa em 2015; como senior visting fellow na London School of Economics and Political Science, entre 2018 e 2019 etc. Atuo ainda como pesquisadora colaboradora da Unidade Mista de Pesquisa Patrimônios Locais e Globalizações/Museu de História Natural, na França; como coordenadora do Laboratório de Estudos em Economias e Globalizações no PPGAS/DAN e; editora-chefe do Anuário Antropológico. Sou pesquisadora Produtividade em Pesquisa 2 do CNPq.
Pesquisa
Quatro grandes temas constituem minha pauta de pesquisa contemporânea: 1. Práticas de governança da economia; 2. Configurações econômicas pós-capitalistas; 3. Ecologias econômicas e; 4. Controvérsias morais e éticas a respeito de condutas econômicas. Busco compreender tais fenômenos em perspectiva comparada, mobilizando fatos e processos ocorridos em três regiões do mundo: América Latina, Sudeste Asiático e Oceania.
Ansiedades administrativas relacionadas à edificação de uma economia de mercado em Timor-Leste têm me conduzido à investigação de como instituições econômicas indígenas são parasitadas e transformadas, por várias tecnologias, pelo Estado e capital internacional.
A incipiência da economia de mercado nas paisagens rurais de Timor-Leste indica que a reprodução coletiva está assente em ecologias econômicas mais-que-humanas. As ecologias econômicas são produto de relações dialéticas entre figurações materiais, simbólicas, formas de organização social e moralidades que coexistem de modo adaptativo ou concorrencial e se afetam e transformam mutuamente.
Ao mesmo tempo, em diferentes lugares do mundo, agentes individuais e coletivos engajam-se em políticas econômicas pós-capitalistas. Compreendendo por políticas pós-capitalistas arranjos produtivos, distributivos e de consumo que se definem por oposição a arranjos capitalistas hegemônicos e que servem de base para o cultivo de subjetivações heterodoxas que tomam a economia como fonte de identificação e lugar de ação moral e ética, tal como propõe Katherine Gibson-Graham. Tais condutas são também caracterizadas por valorização do local como lugar privilegiado para experimentações que desafiam metanarrativas globais, contínua reflexividade e disposição ao novo, abertura ao devir histórico e a negociações de toda ordem a fim de promover transformações e engajamentos que permitam alterar o modo como se dá a produção de sujeitos éticos.
O encontro entre os fenômenos econômicos supracitados engendra tensões morais e éticas, as quais têm lugar de destaque em minhas experiências de pesquisa.
Esta agenda de pesquisa tem sido construída a partir de diálogos e aprendizados contínuos junto com estudantes e colegas. Destaco aqui as redes de interlocução junto instituições dos seguintes países: Austrália, Portugal e França.
Principais Obras
Artigos e capítulos
A cooperação internacional como dádiva: algumas aproximações. Mana [online]. 2008, v. 14, n. 1 [Acessado 21 Março 2022] , pp. 141-171.
Global flows of government practices: development technologies and their effects. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology [online]. 2012, v. 9, n. 2 [Accessed 21 March 2022] , pp. 70-102.
Da resistência à violência de Estado a um novo projeto de formação nacional: genealogias das políticas de Direitos Humanos no Brasil. Anuário Antropológico 39 (1), p. 39-71.
As nações desunidas. Práticas da ONU e a estruturação do Estado em Timor-Leste. Belo Horizonte: Editora UFMG, 457p.
Performing Modernities. Pedagogies and technologies in the making of contemporary Timor-Leste. 1. ed. Brasilia: ABA Publicações, 2020. v. 1. 226p.
Orientações
Na medida do possível, tenho priorizado a orientação de trabalhos (em graduação e pós-graduação) que dialoguem minimamente com minha agenda de pesquisa, seja em termos teóricos, seja em termos históricos.
O inicio de minha carreira foi marcado por um forte interesse em práticas de governança global sobre populações e territórios, engendradas por instituições de cooperação internacional, no passado e no presente. Disso decorreu a orientação de uma série de pesquisas pautadas nesta problemática, das quais destaco as dissertações de Sara Morais, de Alexandre Fernandes, de Andreza C Ferreira e a tese de doutorado de Sônia Hamid.
A seguir, fenômenos relacionados à governança e objetificação da cultura para fins de modernização e expansão da economia de mercado passaram a ser o foco de minha atenção analítica. Desse novo momento emergiram as orientações das teses de Renata Nogueira da Silva, de Carlos Andres Oviedo, de Alexandre Fernandes e de Keu Apoema.
O interesse pela abordagem de novas ecologias econômicas e políticas, facilitadas, inclusive, por novas infraestruturas comunicacionais assim como pela intensificação da moralidade do empreendedorismo conduziu-me à orientação das teses de Raoni Giraldim e Andreza C. Ferreira, assim das dissertações de Ana Carolina R. Oliveira e Fábio Martins.
Paralelamente, tenho orientado várias monografias de graduação e trabalhos de iniciação científica.
Ensino
Graduação:
Antropologia Econômica
MTAS – Métodos e Técnicas em Antropologia Social
Tópicos Especiais em Antropologia IV - Metodologias e técnicas de produção de conhecimento escrito em antropologia
Pós-Graduação:
Antropologia Econômica
Tópicos Especiais em Metodologia Antropológica (Laboratório de Escrita e Gêneros Narrativos)